LIÇÕES APRENDIDAS
As lições aprendidas listadas a seguir representam uma síntese das constatações feitas pelos 680 respondentes dos questionários, 34 entrevistados e dos Interlocutores Estaduais e membros da Câmara Temática de Regionalização do Turismo que participaram das oficinas de avaliação.
• A regionalização (ou a abordagem territorial) adotada pelo Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, para a implementação de suas políticas e estratégias é mais adequada e consentânea com a sociedade do conhecimento e das redes.
As mudanças que se processaram nos últimos anos impõem a necessidade de maior diálogo entre os atores do turismo: Estado, Sociedade Civil e Mercado. Esse diálogo exige uma nova prática política por parte de cada agente envolvido. Dos governantes, exige uma abertura para compartilhamento do poder. Dos atores da sociedade, exige
uma disposição para o diálogo e para ocupar os espaços de poder que já estão institucionalizados, além da capacidade de formular políticas, de acompanhar a implementação das decisões tomadas de forma compartilhada.O território/região é o espaço privilegiado para construir a nova cultura política, ou seja, a governança compartilhada, por meio de pactos e agendas estratégicas na gestão do processo de desenvolvimento do turismo.
• Os princípios e as diretrizes que orientam uma política pública são muito importantes, pois devem nortear a sua implementação.
A unanimidade dos atores ouvidos considerou o Programa de Regionalização uma ótima e inovadora política pública. Seus princípios, senso de propósito e objetivos são considerados pertinentes. Talvez por isso tenha havido muito mais adesões do que resistências ao processo de sua implementação. A regionalização veio ao encontro de
uma demanda da sociedade, do anseio das regiões de se posicionarem mais proativas no processo de desenvolvimento do turismo.
• O processo de descentralização política no País e a construção de governança
compartilhada nas regiões e destinos turísticos avançaram, são importantes e precisam avançar ainda mais.
Os atores do turismo manifestaram, na avaliação, a relevância de o Programa de Regionalização do Turismo compartilhar processos decisórios com as regiões turísticas, espaço onde o turismo de fato acontece. A governança diz respeito a padrões e estruturas em que os atores públicos, privados e a sociedade civil organizada interagem entre si e com os ambientes colegiados, nos âmbitos municipais,
estaduais e nacional, viabilizam consensos e pactuam tomadas de decisões conjuntas, de natureza estratégica e com visão de longo prazo.
A descentralização é um processo histórico mundial. O território/região é espaço de ação e poder e, portanto, portador de protagonismo nos processos de desenvolvimento, em especial, no turismo, atividade econômica que tem se voltado para a sustentabilidade e que aporta melhoria de qualidade de vida para as comunidades e regiões, a partir da gestão compartilhada. Ou seja, da pactuação público-privada dos projetos de interesse coletivo.
• O planejamento participativo é fundamental para o desenvolvimento do turismo e para o empoderamento das regiões e dos destinos, mas é preciso avançar na implementação, no monitoramento e na avaliação dos planos pactuados.
O ciclo da gestão precisa ser fortalecido nas regiões/destinos e nas instâncias de governança, para o alcance de resultados a partir dos objetivos estabelecidos. Dessa forma, é necessário que aconteçam o direcionamento estratégico, a elaboração e a implementação de planos e projetos, o monitoramento/ avaliação dos resultados, com indicadores pactuados e viáveis, e o replanejamento com base no aprendizado coletivo.
• O alinhamento dos programas, projetos e ações dentro das secretarias e setores do Ministério do Turismo é fundamental.
Os entrevistados, em especial os das regiões, apontam a necessidade do Ministério, dos órgãos estaduais e parceiros fortalecerem a articulação entre seus projetos e ações direcionados às regiões/destinos turísticos. Há a percepção de que iniciativas desalinhadas comprometem a capacidade de articulação local/regional para a execução das ações, colocando em risco o alcance de resultados efetivos e eficazes.
• A existência de articulação e construção de pactos oficiais entre os dirigentes do Ministério do Turismo e das secretarias estaduais de turismo constitui uma estratégia de gestão essencial para assegurar a implementação do Programa.
Embora considerando a delimitação de atribuições de cada ente, em todos os âmbitos federativos, a pactuação de estratégias de ação para que os programas estruturantes do Ministério do Turismo sejam prioridades – tanto em nível federal como estadual – é fundamental para a efetividade dos programas e projetos, obtendo-se resultados impactantes, baseados na prática sustentável da atividade turística.
• A regionalização, como Programa estruturante do Ministério do Turismo, precisa ser assim considerado no seu desenho, nos documentos oficiais e nas estratégias do próprio MTur, em seu conjunto e na totalidade da sua implementação.
O Programa de Regionalização deve, efetivamente, continuar a balizar as estratégias do Ministério do Turismo e, também, os apoios técnicos e financeiros do Ministério aos Estados, às regiões e aos destinos/municípios, considerando as suas diretrizes políticas e técnicas.
• A importância da comunicação baseada no diálogo.
A grande maioria dos atores do turismo aponta a importância do processo de comunicação do Ministério do Turismo com as regiões turísticas, criando-se canal aberto para discussão e proposição de idéias e ações para o desenvolvimento do turismo com foco na regionalização. Além disso, faz-se importante criar estratégias de comunicação alternativa nas regiões, bem como ocupar os diversos espaços de mídia
(veículos de comunicação comerciais) para divulgar ações do Programa nas regiões. Em âmbito local, as instâncias de governança precisam fortalecer a comunicação entre os seus participantes.
• A ênfase dada aos destinos indutores deve estar bem articulada com o fortalecimento da regionalização.
A percepção de muitos atores entrevistados é a de que não é clara a relação entre a regionalização e a atuação nos destinos indutores, o que pode acarretar um retrocesso no fortalecimento do paradigma de que a região/território é ator inteligente e empreendedor, portador de ativos para o desenvolvimento do turismo, especialmente capital humano e capital social, em virtude da priorização das ações voltadas para a estruturação da excelência nos atuais 65 destinos contemplados.
• Um programa público eficiente e eficaz deve ter um sistema de monitoramento
e de avaliação desenhado e implementado desde o início.
A existência de um sistema de monitoramento e avaliação possibilitará a execução de possíveis ajustes durante a implementação do Programa de Regionalização e de seus projetos, além de oportunizar a gestão do conhecimento, por meio da adoção de medidas corretivas subsidiadas por informações confiáveis que, por sua vez, são originadas do monitoramento continuado, para sanar dificuldades encontradas nas avaliações sistêmicas, ao longo das ações executadas. Vale ressaltar que esse processo é igualmente participativo, congregando as contribuições de todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva local do turismo.
• A visão do desenvolvimento do turismo sustentável deve ser de longo prazo.
No Brasil, percebe-se que a atividade turística vem se profissionalizando. Todos os que participaram da avaliação apontaram que o Programa de Regionalização deve permanecer ativo, passando pelos ajustes sugeridos. Com uma trajetória de acúmulos, aprendizagens e desafios, trata-se de um programa cujas ações pressupõem, considerando o cenário atual, mudanças culturais e de modelos mentais. Dessa forma, a conscientização dos atores envolvidos, a consolidação das suas estratégias, a
execução coletiva das ações e a obtenção de resultados concretos, a partir do programa, exigem tempo, conferindo-lhe visão de longo prazo, na busca da sustentabilidade na prática turística local.
• A cooperação entre os atores públicos e privados do turismo e a construção de parcerias são fatores fundamentais para a competitividade da região/destino.
A cooperação entre instituições do Estado, organizações do terceiro setor e o mercado cresce em importância no contexto do turismo sustentável. As parcerias também são importantes, considerando as especificidades dos parceiros envolvidos e o alinhamento de propósitos voltados para o desenvolvimento da atividade turística. A competitividade das regiões/destinos é resultado dessa cooperação, na medida em que as ações conjuntas promovem o desenvolvimento das regiões/destinos, conferindo-lhes posicionamento diferenciado no mercado, considerando suas potencialidades e atratividade.
• As instâncias de governança nas regiões e nos destinos turísticos desempenham um papel estratégico e inovador, ao representar a nova esfera
pública.
As instâncias constituem-se em espaços de articulação de atores sociais e têm por objetivo a proposição, análise e monitoramento de políticas, planos, projetos e ações na busca do turismo sustentável. As instâncias de governança, da região ou do destino, são também gestoras do Programa de Regionalização do Turismo, devendo, portanto, contribuir no processo de gestão do turismo no território proposto pelo programa, também por meio da articulação com os colegiados municipais, estaduais e nacionais ligados ao Turismo.
A criação de estruturas de governança implica o estabelecimento de papéis e interações entre os integrantes da atividade turística, a fim de que possam atuar com profissionalismo no planejamento e na gestão do turismo, incluindo ações ligadas à promoção da região ou do destino.
• A importância do capital humano e social para o desenvolvimento das regiões e do turismo sustentável.
Pessoas com competências, habilidades e cidadania (capital humano) e acúmulo de confiança e capacidade de cooperar entre os atores públicos e privados (capital social) são condições absolutamente necessárias para o desenvolvimento do turismo competitivo e sustentável, o que exige pensar e pactuar um futuro comum.
• A estruturação de roteiros turísticos deve acontecer sempre com o envolvimento direto da iniciativa privada.
Muitos roteiros foram construídos para o Salão do Turismo em nível institucional e não foram absorvidos pelo mercado. A inclusão de atores ligados à iniciativa privada no processo de formatação de roteiros comerciais permitirá a disponibilização de produtos focados na real demanda turística e, quando comercializados, movimentarão as economias locais, desenvolvendo as regiões na perspectiva da sustentabilidade econômica.
• A participação social cidadã e a descentralização são um campo em construção
no País.
Historicamente, o Brasil possui, ainda, elementos de uma herança de cultura política que não condizem com a participação cidadã baseada na autonomia dos atores. Em contrapartida, com relação à atividade turística, e considerando-se, também, o pacto federativo existente e as dimensões continentais do País, tem-se percebido o progresso no sentido de avançar nos processos de descentralização, seja pela garantia de alocação de recursos ou pelo compartilhamento de responsabilidades e de poder decisório, por parte das esferas públicas e das institucionalidades mais próximas da cidadania, permitindo a participação cada vez mais ampla de todos os envolvidos com o turismo brasileiro.
Bom, estamos aprendendo...
Moacir Durães
Fonte: Ministério do Turismo