Análise de viabilidade econômica e financeira, conforme estudiosos, é um processo que envolve uma série de estudos sobre o mercado, com o objetivo de avaliar se o investimento em uma determinada atividade é viável ou não. Dessa forma, essa análise, deve ser executada antes de qualquer projeto da empresa em questão. Essa sistemática, é necessária para a manutenção relativa do capital x trabalho e, assim se espera que não haja, no futuro, a necessidade de captação de recursos de terceiros para seu giro e/ou manutenção, embora possa também apresentar essa possibilidade.
Considerando as Medidas Restritivas impostas pelos governos em nome de salvar vidas, e principalmente sobre o distanciamento de pessoas num determinado espaço para enfrentamento de pandemia, citando aqui a Sars CoV-2, uma empresa que há anos esteja fincada sobre esses aspectos iniciais da Análise de Viabilidade e sortidos de causas e efeitos advindos de fatores externos, destes gestores, com certeza afligem qualquer empresário.
A especialista Doris Ruschmann, no seu livro “Turismo e Planejamento Sustentável – A Proteção do Meio Ambiente”, primeira reimpressão em 1997 da Papirus Editora, já preconizava insights de vários escritores sobre a Capacidade de Carga Turística para que os destinos turísticos não fossem exauridos de suas potencialidades. Infelizmente esses indicadores, sequer foram utilizados pelos gestores públicos municipais para estabelecimento de utilização de espaços turísticos. Mais ainda, nas minhas pesquisas, não ouvi ou li algo em que pudessem ser defendidas por alguém do trade, e aqui especificamente, o trade capixaba.
Esses estudos, se tivessem sido utilizados como indicadores poderiam ter auxiliado na reavaliação das Análises de Viabilidade, bem no meio da pandemia, pois afinal, o turismo só acontece quando a presença do interessado chega ao seu destino. O segmento de hotelaria, foi reconhecido, e obteve o direito de ocupação de 50% de seus leitos. Já, de início, foi uma boa garantia da manutenção dos negócios, pois com 30% de ocupação já garante o equilíbrio das contas.
A sociedade como um todo, e aqui me sentencio, como parte desse trade em que simplesmente acatou as Medidas Restritivas apoiadas pelo Tribunal de Contas do ES - TCE e Promotoria Pública Estadual, simplesmente nos tornamos plateia na expectativa de novas decisões. Esse é o quadro que considero, de Medo Instituído, primeiro pela imprensa quanto à pandemia e segundo às represálias institucionais, tanto estadual quanto municipais.
O Selo do Turismo Responsável elaborado e distribuído pelo Ministério do Turismo aos empresários conforme estabelecidos no art. 21 da Lei 11.771 de 2008 foi uma boa iniciativa para o conhecimento de protocolos de segurança que pudessem ser atribuídos aos seus negócios.
No entanto, surpreende-se o número de adesão ao movimento, considerando um plantel de 27.365 (http://turismo.gov.br/paineis/acompanhamentoselos/ consulta no site em 10/04/2021) selos no Brasil para um volume de 123.875 cadastrados no Sistema de Cadastro de Pessoas Físicas e Jurídicas (Cadastur). Se verifica, portanto, que apenas 21,81% aderiram ao programa num momento tão grave de enfrentamento ao contágio. Aqui no ES, a adesão chegou a 561 selos em 13/04/2021 (24,39%) dos cadastrados no Cadastur e 7,95% de 7.000 empreendimentos capixabas.
“Temos, hoje, no Espírito Santo 2.300 cadastros em um universo de sete mil empreendimentos. Precisamos ampliar este número. Além das linhas de crédito, quem está no Cadastur tem acesso a todas as políticas públicas para o segmento, capacitações, qualificações entre outras ações”, explica a secretária de Estado de Turismo, Lenise Loureiro. (https://setur.es.gov.br/Not%C3%ADcia/desafio-turismo-responsavel-termina-no-dia-15-de-abril).
Embora exista um grande esforço para sua abrangência, inclusive com prorrogação de data para sua adesão este número não alcança números mais altos.
O destino turístico, como sabemos, é formado por uma série de atributos, mas o principal deles, é o ser humano por sua questão histórica e cultural para implementar seu negócio. E quando ele vê este destino impossibilitado de receber turistas por medidas editadas por decretos, será que ele continuará sua confiança nos gestores públicos que a cada 14 dias, são editados e alterados? A ruptura da confiança começa a borbulhar...
Porque será então, a causa da baixa adesão a esses movimentos? Será que houve uma ruptura de confiança nos gestores públicos, que por suas decisões se transformam em fatores externos e que afetam drasticamente a viabilidade dos negócios?
Pelo visto, as iniciativas de políticas públicas de turismo a partir de 1993 com o Programa de Municipalização do Turismo e em 2003 com o Programa de Regionalização do Turismo, que dependem do tripé: governo, instituições e trade, não conseguirão salvaguardar essas mesmas políticas, considerando o alto grau de desconfiança que foi impetrado no meio institucional e empresarial, pelo menos em breve período. Nesse palco de tão poucos protagonistas, os coadjuvantes, preferirão ser o público em suas cadeiras.
Enfim, se os Conselhos de Turismo já estavam enfraquecidos, com essa pandemia então, os esforços deverão ser gigantescos para o seu fortalecimento e unicidade...
Ainda mais, o Mapa do Turismo Brasileiro, estará comprometido considerando as informações que o sustenta. As classificações A, B e C, precisarão ser revistas sob pena de indicadores não representarem mais a situação atual, principalmente, quanto a funcionalidade dos conselhos de turismo.
Enquanto o MEDO estiver sendo implementado 24 horas por dia a desconfiança se disseminará com maior intensidade.
O Dr. Fernando Assis Nader, médico educador, preconiza que: “O medo é a ferramenta de dominação mais poderosa que existe. Quando estamos sobre o efeito do medo. Quando existe um sequestro emocional, não conseguimos pensar de modo assertivo. Não conseguimos enxergar os melhores caminhos. Não conseguimos tomar as melhores decisões. Estímulos negativos aos quais estamos sendo expostos ao longo de 1 (um) ano, nos adoece. As pessoas começam a perder interesse pelas coisas do dia a dia. Começam a perder o interesse pelo seu trabalho. Começam e perder interesse pelas suas amizades. Começam a perder o interesse pela vida.”
Esta citação não é especulação, é fato!!!
Leonardo Barreto Ferraz Gominho & Wesley Clistenes da Silva Vargas, discorre sobre o tema: O medo como elemento de controle social: perspectiva analítica do filme “A Vila” que retrata uma sociedade de 1867, extremamente coletivista, na qual todos colaboram, vivendo de forma harmônica e preservando sentimentos bons e puros, principalmente a inocência, e em agosto/2016, descreve com muita clareza, que: “Os tempos remotos em que vivemos, apresentam um quadro social em constante mudança, onde as garantias inexistem, e, portanto, geram um universo de insegurança e de medo. Podemos dizer que nossa cultura ocidental, onde o individualismo e o consumismo reinam, faz com que o sentimento de desamparo seja ainda mais intenso. Se for feita uma análise minuciosa do que nos cerca, iremos perceber que o medo e sua cultura estão impregnados na natureza humana, portanto, estará impregnada em todas as gerações futuras, talvez com uma nova roupagem, mas sempre existente, pois os tempos mudam, e os medos também, mas nunca deixam de nos acompanhar.”
Enfim, a saída, será o investimento pesado de infraestrutura nos destinos para que organicamente, os desejos dos turistas sejam aguçados para esse novo comportamento humano. Mas infelizmente não vimos iniciativas nos governos municipais, que terminaram seus mandatos em 2020, elaborarem uma LOA (Lei de Orçamento Anual) que contribuísse com a nova gestão, mais especificamente para o turismo.
Definitivamente, perdeu-se um ano (2021) de preparo – do dever de casa - do destino para o enfrentamento da pandemia, e quero acreditar que não foi por medo. Foi por omissão mesmo.